"Tava" na escola e a professora deu um monte de canetas prá "nóis",
Aí ela falô prá gente desenhar uma casa e uma árvore,
Aí eu desenhei uma casa de telhado vermelho,
Aí ...
O amadurecimento verbal do indivíduo pode ser, justamente, avaliado pelo abandono do conector "aí". O "aí" tem o exato valor de "e neste ponto", "neste lugar", um conceito relacionado à localização no espaço.
Mas o que um advérbio de lugar tem a ver com a conexão de idéias ?
Este é o mesmo fenômeno que está ocorrendo na linguagem falada em relação ao também advérbio de lugar "onde":
Nós estávamos conversando e foi onde o elemento apareceu armado e gritando.
É a concatenação por justaposição, como se faz no dominó: uma peça com o mesmo número de pontos da última é colocada à frente da outra. Se você pensar bem profundamente, é o ser humano retornando às primitivas da língua, no caso, aplicando conceitos de posição:
do lado, atrás, na frente, em cima e em baixo
No caso do aí, a criança está usando o mais primitivo: neste lugar. No caso do onde, o adulto também está usando neste lugar.
Interessante, as duas pontas da maturidade do ser, a mais e a menos madura, recorrem a uma idéia de localização, da mesma forma que nosso centro geográfico cerebral - o hipocampo - responsável pela noção de posição está encarregado de fabricar novas memórias, seja no discurso verbal ou não.
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