terça-feira, 20 de junho de 2017

Estudo do Diálogo - I

Com a entrada no mercado de trabalho da chamada GERAÇÃO Y (aquela que não pode ouvir não), estamos constatando, já em estado crítico, a queda na qualidade dos diálogos, ao ponto de sua quase putrefação completa. Estas pessoas não estão sabendo conversar mais com educação e com o uso dos códigos sociais.

Redes Sociais

Basta acompanhar os diálogos do Facebook, Twitter, Blogs e Youtube (comentários abaixo dos videos) para ter provas materiais e cabais do que estamos falando. NÃO SE SABE MAIS CONVERSAR como criaturas sociais, nesta geração 2000.

Leia texto a respeito:

https://utilidadedoportugues.blogspot.com.br/2016/02/comunicacao-expressao-e-logica-i.html

Não existe mais argumentação, esta até bem enfraquecida por falta da leitura. Mas os membros desta geração até diriam que lêem muito. Mas justamente o que lêem são os diálogos de que estamos tratando, ou seja, recheados de ironias, falta de educação e muitas vezes repletos de argumentos descabidos, pois qualquer um tem um celular ou computador para ir propagando as baboseiras que lhes brotam da mente.

O Engine do Diálogo

Já que existe tanta baboseira em termos do diálogo, do que ele é, de como funciona, e como deve ser conduzido, colocamos aqui, em terminologia da tecnologia, a "engine do diálogo", baseada nas conclusões de estudos do Hipocampo, o principal órgão envolvido na formação e recuperação das memórias:



Os personagens e o contexto

Os personagens de nosso mecanismo ("engine") são duas pessoas: P1 e P2.

Cada um possui uma "Linha do tempo", conjunto de suas experiências na vida, ATÉ O MOMENTO DO DIÁLOGO.  Utilizamos "Linha do Tempo", para que esta explicação fique tranquila e acessível aos jovens que utilizam o Facebook.

E para ambos os personagens, vale a mesma "Linha do Tempo do Assunto". É necessário frisar isto. Existe um só contexto a ser considerado, sobre o assunto, por ambos os personagens, portanto, só valem argumentações DENTRO DO CONTEXTO.

O Contexto

O assunto de um diálogo possui um Contexto base. Por exemplo, se estamos falando sobre culinária, é desejável que a terminologia fique apenas dentro deste assunto.

Mas, e se surgirem metáforas no diálogo, fazendo comparações com outros ramos ? Se a metáfora for bem conhecida de ambos, tudo bem. Do contrário, ter-se-á que fazer um parênteses na conversa, podendo-se perder o "fio da meada".

Mesmo dentro do contexto, as pessoas P1 e P2 podem se perder. E um dos motivos da perda do caminho do diálogo é a citação de "slogans" ou palavras de ordem. Estes dois últimos são o último dispositivo a ser citado. Ambos servem como recurso de FIXAÇÃO POR EXCESSO.

Vamos dar um exemplo desta nossa época tão conturbada no Brasil. Em um diálogo, uma das pessoas cita que o Presidente Temer foi considerado o líder de uma organização criminosa. Então, ao invés da outra pessoa iniciar argumentações a respeito, ela simplesmente diz "Fora Temer". Estão vendo ? Isto é como uma conclusão apressada. O diálogo não acabou aí, pois ainda não houve o esgotamento da questão, mas um deles quer dar o assunto como acabado.

E desta forma de recursos apressados a Internet está cheia "até a tampa".

Tempos

Cada um deve usar e dar ao outro, no diálogo, o tempo devido e não exagerado. Pessoas que falam demais são extremamente chatas. Um bom tempo de exposição é o de um minuto, em conversas do dia a dia. Para simples encontros rápidos, 30 segundos é o bastante. As propagandas tem, no máximo, 30 segundos de duração. É o suficiente para se dar o recado. Já as conversas técnicas, 3 minutos. É preciso que a outra pessoa possa entrar, sem muito conteúdo exposto, com perguntas para confirmação de alguma parte do que foi exposto. Este é o tempo utilizado nos debates eleitorais (entre 3 e 5 minutos).

E como utilizar tão bem o tempo, da forma aqui colocada ? Não entre em muitos detalhes. Não cite uma pessoa que você conhece, mas a outra não, pelo nome, tentando explicar quem é, pois ambos perderão o rumo da conversa. Diga apenas, "uma pessoa fez isto ou aquilo".

Diferenças na linha do Tempo

Quando se estabelecer um diálogo entre P1, pessoa mais velha, e P2, pessoa mais nova, será preciso ter um grande cuidado. Se você for a pessoa P2 (mais nova), reconheça seu limite, pois a linha do tempo, e certamente o número e diversidade de eventos, da pessoa P1 (mais velha) é bem maior.

O número de conexões neuronais de uma pessoa mais madura, é  milhões de vezes mais numeroso do que alguém mais novo. Não tem comparação. O mais novo deve "enfiar o rabo entre as pernas" e procurar ouvir mais. Portanto, deverá até dar mais tempo ao mais velho, para este falar.

Explicação do Mecanismo

Observando o que foi dito anteriormente, a pessoa P1, tirando fatos de sua Linha do Tempo e da Linha do Contexto do assunto, cruzando-os SEGUNDO REGRAS, PADRÕES, METÁFORAS já conhecidas pelo senso comum, argumentos de TESES DE AUTORES e de argumentos conhecidos da PSICOLOGIA, para formar seus ARGUMENTOS. Detalhes deste procedimento serão explicados depois.

Uma vez que tem os ARGUMENTOS BEM FORMADOS, emite sua fala, respeitando os tempos mencionados anteriormente. A pessoa P2 leva uma pequena vantagem, da primeira vez, pois tem, além dos componentes mencionados para a pessoa P1, os argumentos desta. No entanto, também terá mais trabalho desta primeira vez em que fala, pois tem que se referir aos argumentos da pessoa P1.

Ou seja, a essência do diálogo é levar em conta os Contextos, e o conteúdo da pessoa que falou, em um ciclo do diálogo. Não se usa somente o contexto da própria vida e o contexto do assunto, senão teríamos um monólogo, e não um diálogo.

Tenha em mente que, mesmo os absurdos ditos por alguém devem ser levados em conta para mostrar erros de interpretação de contexto. Qualquer opinião, de qualquer pessoa, é um conteúdo útil para corroborar ou refutar teses. Toda pessoa é proprietária de uma Rede Neural privilegiada, chamada CÉREBRO, o mais maravilhoso mecanismo já concebido.

Como colocar seus argumentos

Para tecer argumentos, é necessário ter a sua vida (todos a tem) com UM CONJUNTO RAZOÁVEL DE EXPERIÊNCIAS SOBRE O ASSUNTO EM QUESTÃO. A Internet está cheia de "guris", pessoas generalistas, membros de um clube de cultura de "Youtubers", cuja linha do tempo está recheadas de conhecimentos de "profetas de ocasião", sem a mínima consistência de conhecimentos básicos sobre o que falam. Ou seja, Conhecimento sobre o Assunto é po BÁSICO.

As Regras citadas ao centro do nosso "mecanismo" são as Regras do Silogismo, ou seja, aquelas que pautam o cruzamento de fatos para compor os argumentos. Basta consultar o Google para se ter acesso a estas regras. Os Padrões são as construções com a concordância, para evitar a tradicional pergunta: "como é que é isso que você falou ?". As metáforas são frases de bom efeito que ajudam a fixar o argumento exposto. As Teses dos Autores conhecidos são muito importantes, pois demonstram que o argumento veio alicerçado em ideias que os outros já discutiram, e facilitam a evolução do assunto, pois você já cita o que os antigos já reputaram como mentiras ou fatos possíveis. No entanto, é bom citar os mais antigos e os pensadores recentes (que infelzmente estão muito fracos).

E finalmente, em se tratando de conversas sobre fatos que envolvem pessoas, algum conhecimento de Psicologia é bem vindo. Dizendo Psicologia estamos também falando de Sociologia.

Notas finais

Em um diálogo, EVITE DIZER "não é isto". Se realmente for como uma das pessoas está falando que é, são os argumentos que devem mostrar isto, e não um julgamento final da questão.

Lembre-se, também, de que AS COISAS MUDAM. Não se baseie no Contexto atual para dizer que algo é impossível, pois vivemos em uma época em que os impossíveis estão acontecendo.

Não chateie a outra pessoa, sendo sempre DO CONTRA. Se este for o caso, mostre, com argumentos válidos, construídos de acordo com as recomendações acima, que o que ocorre é o OPOSTO do que ela falou.

Não seja agressivo, pois esta é a arma dos fracos de argumentos. Isto é o que mais ocorre nos diálogos de Internet, atestando a incapacidade desta geração mais nova de pensar. QUEM NÃO PENSA, AGRIDE.

Conclusão

O diálogo é uma ferramenta valiosa de desenvolvimento humano, tem regras, e propicia o crescimento individual e dos envolvidos na conversa.

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Bibliografia:


Hippocampus: Intrinsic Organization - Peter Somogyi
Hippocampus - Philip Taupin