domingo, 19 de junho de 2016

Uso adequado dos substantivos - Escala de Valores

As Ideias Básicas disponibilizadas pelo nosso linguajar cotidiano são poucas, apesar do léxico (conjunto de palavras da língua) ser da ordem de quase uma centena de milhar de palavras.

Um Léxico abundante

O Léxico de uma língua é abundante pelo fato das Ideias Básicas se apresentarem em uma escala de intensidade. Para a melhor compreensão, vamos utilizar um exemplo bem conhecido da quase totalidade da população, notadamente dos brasileiros, nos tempos atuais: a palavra Violência, substantivo próprio, no entanto utilizado como substantivo comum.

Mostraremos o seu mau uso, frente à preguiça e ao empobrecimento do vocabulário do homem comum.

Indícios da raiz da ideia de Violência

Explorando as raízes da ideia de violência em línguas semíticas (grupo de línguas do oriente médio, no início da civilização), vemos que Violência vem da raiz RASGAR, TRABALHAR e também de TIRANIZAR. A busca semântica em línguas antigas serve para retirar o significado mais próximo possível do que o homem concebeu quando a necessidade de denominar a ideia surgiu. Desta forma, evitamos a confusão provocada pela múltipla derivação e mistura com ideias advindas da semântica das línguas de colonizadores, além das mudanças de uso de palavras com o correr do tempo.

RASGAR

Rasgar denota uma ideia bem óbvia para a nossa mente. Rasgar uma folha de papel lembra o rompimento de suas fibras constituintes. Derivadas de Rasgar temos as ideias Esquartejar (rasgar o Corpo de um ser humano), Presa (animal que, após capturado, é "rasgado") convertida em pedaços para alimentação. E advindo desta última ideia temos Mantimento (pois a comida é originária de pedaços de animais). Fisicamente temos as derivadas Puxão (ato que determina a ação de Rasgar).e Safanão (não promove o resultado de Rasgar, mas o antecipa). Rasgar implica em se atingir a INTEGRIDADE FÍSICA DO ALVO pretendido da pretensa Violência.

Em nosso raciocínio primário, RASGAR é a ideia que mais caracteriza a Violência. Mas veremos que não, pois vamos explicitar a ideia de Trabalhar. Mas como, o que Trabalhar tem com a Violência.

TRABALHAR

O trabalho diário, em priscas eras, envolvia a Agricultura e o Pastoreio. As ideias objetivas a este respeito (ações) eram Cultivar, Lavrar e Fender. E as ideias derivadas mais óbvias são Escravo, Servo, camponês, fazendeiro e lavrador. Destas, a ideia que mais nos lembra a dita Violência é a de Fender. E por que ?

A principal e objetiva atividade do lavrador, em seu trabalho diário, é a preparação do solo, aplicando o arado ao solo, para abrir as FENDAS onde serão colocadas as sementes para o plantio. Não era diferente com o homem dos tempos antigos. Este arado também tinha que ser afiado, e é desta ação que derivavam as armas, como a adaga, o arpão, espada, lança e punhal, por motivos óbvios, e a ação de golpear, que se refere ao uso dos substantivos mencionados anteriormente.

TRABALHAR DURO

Nas sociedades antigas (o termo primitivas não se aplica ao homem, pois sempre foi capaz de dominar o contexto em que viveu) existia um trabalho árduo. Era preciso manter a segurança da nação, sem a existência de fronteiras aceitas internacionalmente, e expandir a área geográfica para a sobrevivência da mesma. E Trabalhar desta forma se expressava basicamente em três coisas:


  • Guerrear;
  • Pressionar;
  • Proteger;


O ato de pressionar parece um pouco estranho, não ao trabalho duro, mas às duas outras ideias. Mas explicamos. Do ato de Pressionar vem o verbo cujos substantivos derivados contavam ÓLEO e SÊMEN. No caso de óleo, a associação é óbvia, pois o principal óleo fabricado nas civilizações do Oriente era o Azeite. No caso do Sêmen, ele também era olhado como uma espécie de óleo, por produzir a vida.

TIRANIZAR

Sendo as guerras uma atividade genuína e comum de manutenção da nação, assim como de sua expansão, a consequência contida no ato de Tiranizar os povos vencidos é quase natural. E Tiranizar equivalia a agir com Violência. E que espécie de violência era esta ? Obrigar os povos vencidos a aceitarem a Autoridade do Rei da nação vencedora, ou até a sua escravidão, tratando os vencidos como um Feixe. E desta forma de tratamento surgiu a ideia posterior de fascismo. O símbolo da autoridade do Rei era um feixe, como se pode constatar nos utensílios reais dos faraós.

Conclusão Intermediária

Na coleta das ideias ligadas às raízes das ideias por intermédio das quais podemos chegar à ideia de  violência, constatamos que os símbolos se encaixam perfeitamente às ideias que lhes foram posteriores, e fazem muito sentido para nós, seres humanos, com evidências em nossas próprias linguagens.

A Escala da Violência

Vamos nos ater ao estudo da violência apenas aplicado ao homem.

O primeiro degrau na denominada violência seria o Puxão. Você está na beirada da calçada, no semáforo, e percebe que um jovem vai atravessar quando os carros ainda estão em movimento, na via. Você dá, então, um puxão pelo braço, e salva o indivíduo em possível perigo. Este ato se configura apenas em "deslocamento de corpo" com o atenuante de "intenção de evitar prejuízo à vida".

O segundo degrau na escala da denominada violência seria o Proteger. Não confundir com o "salvamento" do parágrafo anterior. Proteger implica num terceiro envolvido. Alguém se aproxima de uma pessoa ao seu lado, no ponto de ônibus, armado de uma faca. Você se coloca em atitude de defesa, armado ou não, entre o portador da faca e a possível vítima. Houve uma intimidação de sua parte em relação ao terceiro que chegou armado.

O terceiro degrau na escala se refere à uma extensão da segunda escala, onde você decide que é preciso golpear o agressor armado de uma faca, com um soco, chute ou cotovelada, pois este insiste em ameaçar a vítima e, agora, você com a faca. Sendo assim, você acerta um soco no queixo do infeliz

O quarto degrau da escala ocorre quando, resultado da insistência do agressor da terceira escala, você lhe toma a faca e GOLPEIA este agressor, provocando um ferimento, ou seja, RASGA a sua pele.

Nestas primeiras quatro escalas emerge imediatamente a ideia de um TRABALHO DURO, que é o de PROTEÇÃO. A Proteção é tão dinâmica quanto a chamada AGRESSÃO. Para os povos antigos não existia tal conceito. Guerrear era algo bem comum, servindo como uma espécie de exercício. Até jogos entre tribos refletiam este anseio e vocação, que foi depois sublimado em competições esportivas.

O quinto degrau da escala ocorre quando um povo toma a iniciativa de expandir seu território, como no caso em que o Iraque de Sadam Hussein resolveu tomar o Kuwait (com o agravante de cobiça aos seus poços de petróleo), declarando-lhe Guerra. Aqui a agressão é deliberada. O "agressor" não sofreu ou não constatou que alguém ao seu lado, ou ele mesmo, pudesse ser agredido. Ele não estava se defendendo, e nem tampouco defendendo um terceiro. E sua ação provoca uma consequente ação coletiva de agressão. Isto pode ser traduzido, na vida comum das cidades, pelas rixas entre indivíduos, ou entre famílias, ou entre torcidas organizadas de futebol.

O sexto degrau na escala se refere à TIRANIA. Este agressor citado na quinta escala oprime o agredido, permitindo que seus soldados estuprem as mulheres da nação agredida, torturem a população conquistada, confisque seus bens, etc. Na vida comum dos cidadãos, este patamar de violência ocorre no caso de criminosos que mantém pessoas em cárcere privado para (1) auferirem lucro (sequestro) ou (2) subjugarem a pessoa para seu próprio prazer.

A Ação das Autoridades Policiais na Escala da Violência

A localização da ação Policial, na escala sugerida, se encontra, claramente, na categoria de Proteção. Se já vivemos um estado de coisas tais quais como estão, o que se poderia dizer que aconteceria, caso a Autoridade Policial estivesse ausente ? Seria como não se ter possibilidade nenhuma do controle do preço do pão, e este aumentasse sem nenhuma previsão.

O patamar inicial da Atividade Policial objetiva estaria, inicialmente, na segunda escala. Como o grau de resistência, mesmo de integrantes de movimentos sociais como o MST e MTST, bem como dos traficantes de morros, chega ao grau, atualmente, de Milícias, dado o grau de sua organização e de táticas para tentar deter o Batalhão de Choque, os confrontos chegam à terceira e quarta escalas.

A Autoridade Policial não é a portadora da agressão. Sua atividade é Constitucional, ligada à existência de uma Sociedade de Cidadãos. Ela não sai na rua imbuída da intenção de agressão. Ela sai uniformizada para o exercício de sua atividade.

Podem rir, mas ...

QUEM DERA OS ASSALTANTES SAÍSSEM UNIFORMIZADOS, para que pudéssemos identificá-los na rua, e evitá-los.

As ações envolvidas nas escalas de Violência não são exatamente as mesmas perpetradas por uma pessoa comum, que possa ter intenções violentas, e por um Policial. Um policial não sai às ruas com a característica de primeira pessoa, AGRESSOR, conforme o demonstrado nas escalas que colocamos aqui.

Violência Policial ou Contenção Constitucional

Pela análise da Escala de Violência, aplicada ao homem, em sua totalidade, constatamos que é preciso acrescentar diferenças por Categoria. Homem Comum e Homem Policial. Olhar o Policial, ignorando o seu Uniforme, e sua função Constitucional é o mesmo que ser portador de CEGUEIRA CIDADÃ.

O homem comum não sai às ruas com toda a sua consciência cidadã. Ele sai, como robô, se encarando como trabalhador, e cheio de direitos. A prova da falta de consciência cidadã se expressa nas infrações de trânsito, logo a alguns poucos quarteirões de sua casa, fechando o veículo do lado, avançando um sinal ou outro, andando com excesso de velocidade, e outros. A consciência Constitucional só surge no momento de defender ou acusar uma Presidente, gritar "Fora Cunha", "Fora Dilma" e demais frases da moda.

Deveria receber um prêmio, aquele que saísse de casa com a plena consciência de que o Fiscal de Trânsito está cumprindo uma função Constitucional (Municipal) ou que o Policial Militar também o esteja (Estadual). Não, não temos um subconjunto razoável de cidadãos nesta condição.

Fomos convencidos de que qualquer forma de Autoridade é repulsiva, exagerada e violenta. E como isto se dá ? Pelos exageros.

O que foge de uma escala de valores é metáfora, ou exagero, ou subestimação. 

O valor deve ser correto. A ação do cidadão inconsciente de seus deveres pode ser chamada de VIOLÊNCIA, mas tem que levar em conta a escala que classifica esta ação. A ação Policial é uma forma de Contenção Constitucional. Mesmo o Policial mais corrupto, se respeitado, vai estar sossegado na função de proteção, que é característica de seu ofício. Ele não quer se expor, não quer se revelar.

Golpe

Para aproveitar a situação política, em proveito de um maior esclarecimento de nosso Tema, vamos nos ater à frase bordão da esquerda brasileira, diante do Impeachment da Presidente Dilma:

"Impeachment sem Crime de Responsabilidade é Golpe"

É uma frase de efeito onde existe um pleonasmo, pois todo crime, mesmo Culposo, envolve a responsabilidade de alguém. Se todos fossem responsáveis, não haveria crime. Mas isto é objeto para uma outra discussão futura. Se não houvesse a propagação de frases absurdas como esta, não teríamos assunto nas aulas de português, nem nas de linguística.

A ação tomada em relação à presidenta, diante do que foi explicado anteriormente, teve o cunho Constitucional, e viria, em nossa escala, abaixo da escala característica da Atividade Policial. A atividade Constitucional, não policial, é algo que concordamos de comum acordo, quando ganhamos a cidadania automática no nascimento. E dela temos a obrigação de tomar conhecimento, quando da maioridade, aceita como convenção, aos 18 anos de idade. Portanto, não há como se iniciar uma discussão sobre a palavra Golpe para ações constitucionais.

Que palavra poderia ser melhor utilizada neste caso ? No máximo um Puxão que, coimplementado poderia se transformar na expressão comum "puxão de orelhas". Tanto isto é verdade que, se voltar após o afastamento, não constataríamos marcas visíveis de qualquer agressão.

Conclusão

Ao utilizarmos as palavras, devemos observar a sua correta conotação, pois exageros podem corromper seu significado, e servir de instrumento para quem quer infringir a lei, ou estabelecer falsas verdades, para posterior dominação.

Violência é algo que, para ser dito de um fato, precisa passar por vários estágios, antes de se poder dizer que foi constatada.