quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Interpretação de textos complexos II - Machado de Assis

Vamos analisar outro texto de Machado de Assis, o mestre,  (Capítulo IV - Dom Casmurro):


Como se trata da descrição de uma pessoa observada por quem escreve, marcamos alguns trechos referenciais:


  1. José Dias é a pessoa descrita, portanto marcamos o seu nome com o retângulo verde. Um nome não deixa dúvidas, portanto não precisa ser explicado;
  2. O Rio de Janeiro é um dos locais de referência. Pode ser o local da descrição. Se não o for, pelo menos serve de referência para localização;
  3. O trecho cujo fundo é cinza é um pensamento de quem descreve a pessoa e o cenário. Não tem significado para nossa abordagem centrada no "objeto" sendo descrito;
  4. Uma descrição circunstancial do trajar da pessoa descrita. Um indivíduo pode ter vários usos de roupa, mas a roupa e a circunstância em que é usada, combinadas nos fornecem alguns traços de caráter e personalidade do mesmo;
  5. Característicos da pessoa descrita no momento, mais concretos do que a roupa no item 4.
O texto é uma descrição, e não existem questionamentos. O que vamos analisar, é o poder de precisão desta descrição. Os detalhes da aparência de José Dias (em cinza e amarelo) são apenas aparência externa, mas o autor lhes dá a conotação levemente ridícula, pois diz que tudo isto parecia, no personagem, veste da moda com ar de cerimônia. Talvez todo o conjunto, em um homem magro, parecesse por demais soberbo, excessivo.

O mais elucidador da descrição no sentido apresentado é a frase "um vagar calculado e deduzido, um silogismo [Log. 2 premissas e uma conclusão] completo, a premissa antes da consequência, a consequência antes da conclusão" . O autor encaixa o comportamento de João Dias dentro da roupa que o mesmo usava, dando-lhe coerência, e sugerindo que o mesmo deve ser uma pessoa extremamente sistemática.

Conclusão

É este o produto que deve ser retirado de uma descrição: a coerência ou não das partes, e desta forma a competência ou incompetência do autor. Conhecer o autor também ajuda a entender o que ele escreve, pois eles escrevem de duas formas:


  • Obedecendo ao seu modo peculiar de vida;
  • Exprimindo o modo de vida que almejavam ter.



Machado de Assis, como escritor inteligente, psicólogo (mesmo sem o diploma), possui uma agudeza de análise elevada.

Comprar no cartão de 2 vezes

Não, não é um artigo com conselhos de uso de cartão de crédito. É sobre um enunciado de matemática:

"Joana comprou um vestido para pagar R$ 390,00 de duas vezes no cartão de crédito."

O que você entende a partir deste enunciado ?

Não preciso perguntar ao leitor adulto, mas uma criança de 11 anos me deu a seguinte interpretação:

"Então Joana vai pagar R$ 390,00 duas vezes. O vestido custa R$ 390,00 x 2."

Fiquei estarrecido, não com a interpretação desta criança, mas com a NOSSA INCAPACIDADE de adultos, de didatas, de professores, de mestres, em apresentar os problemas da forma correta. Ao invés de entender que os dois pagamentos somados vão totalizar R$ 390,00, ela entendeu que vão ser dois pagamentos de R$ 390,00, portanto, ao final, o valor pago será o dobro, e não R% 390,00.

Nos livros só vejo os "especialistas" em ensino INVENTANDO novas terminologias para os estudantes, ao invés de apresentarem as coisas com humildade e simplicidade. Os textos de Internet, de quem quer só parecer que sabe, são exposições sem conteúdo, com excesso de métodos, regras e pobreza de substância, de resultados ou de conclusões.

Em nosso enunciado, a expressão:

"de duas vezes no cartão de crédito"

é uma fonte de ambiguidade terrível.

É preciso explicar, MESMO COM O RISCO DE PARECER PROLIXO. pois quem está lendo é uma criança.

Os professores e revisores devem ter cuidado ao apresentar o universo da matemática para crianças, senão elas simplesmente vão criar e alimentar um ódio ou aversão, ou ambos, em relação à matemática. É o mau uso do português que torna, muitas vezes, a matemática tão chata e difícil.

A culpa, aqui, foi de quem escreveu tão mal, resumido, e pensando que a criança sabe o que estava pensando a pessoa que escreveu o enunciado, ou seja, um adulto arrogante.