quarta-feira, 6 de julho de 2011

O português ajuda o raciocínio

Quanto mais difícil é uma língua, quanto mais regras tem a sua gramática, maior é o crescimento da capacidade de raciocínio que ela proporciona.

A língua portuguesa possui palavras compridas, muitas preposições, muitos tempos verbais e vasto vocabulário devido à herança de vocábulos de outras línguas (grego, latim, francês, árabe e inglês adaptado) que vieram se incorporando à nossa.

Compreender e utilizar as regras do português se compara a equilibrar pratos como é visto nos circos chineses. Não se trata de uma ou duas regras, e sim numerosas regras.

Vamos supor uma situação proposta no período a seguir:


Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou
pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a
minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento,
duas considerações me levaram a adotar diferente método: a
primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um
defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que
o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também
contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença
radical entre este livro e o Pentateuco.

Este é o período inicial da obra de Machado de Assis - Memórias Póstumas de Brás Cubas. Os primeiros "pratos" que iremos equilibrar são memórias, nascimento, morte, autor defunto/defunto autor (oposição), Moisés e Pentateuco.

Temos 6 idéias, uma a menos do que é o limite conhecido de nossa memória de curta duração (conhecido como sendo 7 no total). Alguém perguntaria a você, que está preocupado em "equilibrar" estes seis pratos? Qual é a relação entre estes "pratos" que você está equilibrando ?

Então você teria que escolher alguns dentre os seis para começar a explicar:

As memórias são ordenadas do nascimento até a morte, pois este é o caminho natural do ser humano em sua estadia na terra. Neste ponto, poderíamos não mais nos lembrar dos demais pratos. Este é o problema da memória de curta duração. Por isto, para guardar as situações na memória, é preciso "pintar" um quadro na cabeça, imaginando uma linha desta forma:


Bem mais fácil de guardar como uma relação.

Voltando aos "pratos", temos uma:

Oposição

Autor defunto/defunto autor

Esta operação mental da oposição será melhor explicada no Blog do Cérebro, mas podemos dizer aqui que as oposições, quando expressas na linguagem, provocam uma reação de surpresa e até de risos no ser humano, por sua originalidade e pela forma inesperada pela inversão da ordem dos elementos, e consequentemente da alteração sintática dos termos na frase (defunto passa de artigo para substantivo). O cérebro se agrada deste tipo de coisa que é bem explorada pelos humoristas e autores espirituosos.

Pessoa/Posse

Os "pratos" Moisés e Pentateuco perfazem a relação Coisa/Possuidor, ou Autor/Obra. Como a palavra "autor" aparece duas vezes no texto, ficaríamos com Autor/Obra.

Relação das Relações

Depois das relações individuais serem resolvidas, vamos ver como todas estas relações se encaixam, ou seja, como todas estas relações formam um quadro aceitável para a mente:



Conclusão

Portanto, quem conhece as regras do português e as usa no momento certo, sem absurdos exagerados, expande sua mente e melhora a sua memória, seu conhecimento da língua e raciocina melhor, fazendo mais relacionamentos entre as coisas logicamente relacionadas ou não.

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