quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Comunicação, expressão e Logica - II

Vamos analisar um diálogo de Machado de Assis, em seu "Apólogo", diálogo este entre a linha e a agulha:a

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora?  A senhora não é alfinete, é agulha.  Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa!  Porque coso.  Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você?  Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

Neste diálogo vemos claramente a exploração inteligente e detalhada dos atributos de ambas, linha e agulha. O segundo aspecto é a humanização de personagens inanimados, mas que possuem funções. Se existe função, existe contexto de ação. Se existe contexto de ação, existe um procedimento, um modus operandi, um hábito. E se estes últimos existem, tem-se uma personalidade, mesmo em se tratando de objetos.

O curioso é que, mesmo na nossa vida, na interação com os seres animados - as pessoas - encontramos gente sem função, ou então não conscientes de suas funções, portanto as temos como pessoas sem personalidade.

E então, vemos o brilhantismo de Machado de Assis, ao mostrar, através deste seu diálogo, dois objetos inanimados mas que, no entanto, tem consciência de suas funções, suas capacidades e portanto de sua utilidade no mundo prático da vida. E isto só poderia ser expresso no papel por um autor que também tem estas características de personalidade.

Conclusões

Na comunicação e expressão, o instrumento mais eficiente para se mostrar o potencial do autor são os diálogos. Se o autor usa no diálogo alguém que realmente fez parte de seu Universo interior (sua vida), o valor deste personagem está nas fortes impressões que deixou no autor, pos do contrário não o escolheria. Se um personagem é alguém simplesmente inventado pelo autor, ainda sim este deve ser inspirado em uma ou mais pessoas que ele conheceu, e o valor está na síntese de comportamentos que o autor imputou a este personagem.

No texto, Machado de Assis "se partiu em dois" e deu vida à agulha e à linha. Porções de suas falas podem ter vindo de irmãs, da mãe, das tias ou avós de Machado, e estas pertencem, todas, ao Universo de "atores internos" do mundo machadiano.

Romances em que o autor simplesmente conta casos podem mostrar um contexto em uma época, mas não mostram a exploração de personalidades, procedimento útil para fazer crescer os leitores. Eles até podem se comunicar com o leitor, mas não são a forma genuína de ensino da comunicação, que se dá sempre entre pelo menos duas entidades comunicativas humanas.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Como é um texto bem escrito - Como fazer uma Redação de qualidade

Dentro de nós, com os anos de experiência e muita leitura, temos regras, um instinto, que nos faz distinguir um texto bom de um texto ruim.

As regras nunca são explícitas para ninguém, mas conseguimos reunir, através dos anos, com muita observação, a partir de muito material, algumas que já podem ser observadas na próxima vez que nos lançarmos na leitura de algum texto.

E como a leitura hoje se dá muito em função da Internet, algumas regras contemplam aspectos estéticos para tornar a exposição mais agradável aos olhos.

Elas estão abaixo:

Requisitos fundamentais

1. Não tem erros de português (este é o primeiríssimo requisito);
2. A argumentação é crescente. Os fatos vem na ordem da menor importância para a maior importância;
3. Existe uma preocupação com a cronologia;
4. Destaque visível. O que é isto. É uma técnica de Internet. As ideias principais são apresentadas em
letras maiúsculas da primeira vez, ou negritadas. Depois, apenas a primeira letra aparece maiúscula;
5. Você pesquisa os conceitos apresentados, e conferem com o real;
6. As figuras são representativas, e não somente artísticas;
7. O autor se preocupa em garimpar os princípios das ideias e dos conceitos;
8. São citados autores e nomes de equipamentos, missões, protagonistas de atos importantes;
9. O autor é contundente, mostrando que tomou partido claro em torno da tese que defende;

Características não obrigatórias, mas que acrescentam credibilidade

1. O autor utiliza metáforas que tornam sua tese mais sólida;
2. O texto é escrito em ESTILO DIAGONAL. O que é isto. Simplesmente a ideia lançada ao final de um parágrafo é detalhada no parágrafo seguinte. Em outras palavras, é a realização perfeita do item 2 de nossa primeira lista;
3. As argumentações expostas se encaixam nas sensações que a pessoa que lê já experimentou;
4. O texto te estimula a pesquisar mais. Ele abre novos horizontes, pois o autor expôs princípios básicos de coisas que o leitor ainda não conhece;
5. O texto contém uma distribuição harmônica de conteúdo escrito, diagramas e mídia;
6. O texto não é cansativo.
7. Você reconhece maturidade no texto;
8. O autor encaixa nomes de cientistas, aos princípios que criou, às invenções resultantes, aos novos
princípios criados pelo anterior, numa sucessão que mostra que ele está sabendo o que fala;
9. O autor cita que usou determinada coisa a que o texto se refere, ou que viveu na época em que os fatos se deram;
10. Nomes/sobrenomes, datas, locais e fatos acontecidos se apresentam impecáveis;
11. O autor usa um vocabulário extenso, que extrapola em muito as palavras de uso comum;

Características que determinam originalidade:

1. Você copia trechos do texto e cola no Google, para ver se não foram copiados;
2. Você busca as figuras, e percebe que o autor acrescentou indicações, para aumentar a sua clareza;
3. O autor expõe os fatos como nenhum outro autor nunca fez;
4. O autor chega ao ponto de propor hipóteses que fazem muito sentido;

Cuidados técnicos

  1. Não confundir unidades: kg com tonelada, metro com quilômetro, mililitro com litro. è comum ver nos jornais e textos de Internet erros absurdos, por falta de atenção de quem escreve;
  2. Não confundir nomes, sobrenomes, locais, horários em que se deram os fatos;
  3. Principalmente nos jornais, vê-se verdadeiros vexames na hora de se colocar nomes e sobrenomes das pessoas, que ficam grafados errados, tirando inclusive a credibilidade da informação;

Conclusão

Perceber isto tudo só é possível aos "macacos velhos" que leem muito, que pesquisam, que são
curiosos, e que, sobretudo, não são debochados. Na Internet existem textos que não passam nem na metade destes requisitos, e dá para perceber, de cara, que o texto foi escrito por um leigo.